Por
José Romero de Araújo Cardoso
Manoel Tavares de Oliveira
(Frutuoso Gomes/RN, 1940 - Mossoró/RN, 2016), legou-nos importantes trabalhos
literários, a exemplo de Estrada de Ferro Mossoró-Sousa: Um sonho, uma
realidade, uma saudade, publicado pela Coleção Mossoroense, bem como cordéis
extremamente articulados e úteis aos estudos regionais, com ênfase ao
intitulado Cidades do Rio Grande do Norte que Mudaram de Nomes, o qual
integra a Coleção Queima-Bucha.
As mudanças de nomes em
muitos municípios norte-riograndense fez do Estado um dos que mais usaram desse
artificio a fim de implementar homenagens a determinadas personalidades
influentes em seus tempos, não obstante topônimos de origens indígenas terem
tido destaque no fomento à retirada de agraciamentos à figuras ilustres, casos
de Assú e Caicó.
Conforme Manoel Tavares em
seu interessante cordel, Assú já se chamou Vila Nova da Princesa em
homenagem a Carlota Joaquina. Afonso Bezerra, topônimo em consideração ao poeta
brilhante, era Carapebas, enquanto Almino Afonso foi Caeira.
Alexandria, divisa com o Estado da Paraíba, localizada a dezesseis quilômetros
de Santa Cruz, município paraibano situado nos antigos trechos finais da
Estrada de Ferro Mossoró – Sousa, teve a denominação de
Barriguda e João Pessoa, sendo a primeira devido à serra em formato
de mulher grávida e o segundo em tributo ao político paraibano martirizado em
1930.
Antônio Martins já se
chamou Boa Esperança e Demétrio Lemos. Bento Fernandes já foi
Barreto. Caicó já foi pomposamente chamado de Vila do Príncipe. Campo
Grande teve uma das mudanças de nome efetivada a fim de homenagear Augusto
Severo, um dos pioneiros e mártir da batalha em prol da conquista dos céus,
tendo sido chamado ainda de Triunfo. A antiga e primitiva denominação
encontra-se vigente.
Baía Formosa já teve o nome
de Aretipicaba e Carnaubais teve os topônimos de Poço da
Lavagem e Santa Luzia. Ceará-Mirim já se chamou Boca da
Mata. Coronel João Pessoa era Baixio de Nazaré. Coronel Ezequiel teve dois
topônimos: Melão e Jericó. Doutor Severiano
era Mundo Novo. Encanto já foi Joaquim Correia. Equador teve a
denominação de Periquito. Cruz do Espírito Santo foi conhecido
como Espírito Santo e Cana Brava, Felipe Guerra foi conhecido
primitivamente por Pedra de Abelha, enquanto Florânia já foi Flores.
Francisco Dantas já
foi Tesoura, Frutuoso Gomes já foi Mumbaça e Mineiro e
Governador Dix-sept Rosado, que junto com Marcelino Vieira são os municípios
potiguares que possuem maior número de denominações toponímicas, até o presente
momento, em um total de quatro, já foi chamado de Passagem do
Pedro, São Sebastião e Sebastianópolis. O antigo termo
de Passagem do Pedro passou a se chamar Governador Dix-sept
Rosado em Julho de 1951, depois que o político e industrial potiguar
faleceu em companhia do seu secretariado, além de outras pessoas, trinta e duas
ao todo, vítimas de acidente aviatório no Rio do Sal, em Aracaju, capital
Sergipana, em 12 de julho de 1951.
Ielmo Marinho já
foi Poço Limpo. Ipanguaçu, Sacramento, Itaú já teve o nome de
Angicos. Jaçanã teve dois topônimos: Flores e Boa Vista. Janduís
já foi São Bento do Bufete eGetúlio Vargas. Boa Saúde mudou seu nome
para Januário Cicco e depois voltou à denominação primitiva, enquanto
Jardim de Angicos era apenas Jardim, mesma denominação de Jardim de Piranhas
em épocas passadas.
Jardim do Seridó também teve
dois topônimos: Vila do Jardim e Conceição do Azevedo. João
Câmara teve dois topônimos: Baixa Verde e Matas. Localizado em
cima de falhas geológicas, João Câmara ficou conhecida na década de oitenta do
século passado como a terra dos terremotos.
Marcelino Vieira, como
frisado anteriormente, teve três topônimos antes da atual denominação
toponímica: Passagem do Freijó, Vitória e Panatis. Lajes se
chamou Itaretama e Macaíba foi conhecida por Povoação do Coité.
Martins já
foi Maioridade e Imperatriz, ambos adotados em homenagem à
nobreza. Maioridade em razão que Dom Pedro II só foi coroado Monarca graças a
uma estratégia que lhe garantiu o poder, a qual ficou conhecida como Golpe da
Maioridade.
José da Penha já
foi Mata. Monte Alegre, Monte das Gameleiras. Messias Targino já foi
Junco. Nísia Floresta teve dois topônimos: Vila Parary e Vila
Papary. Nova Cruz já foi Anta Esfolada. Ouro Branco já foi Espírito
Santo. Ruy Barbosa já foi Olho D´água. Parnamirim já foi Eduardo
Gomes, em homenagem ao oficial da aeronáutica que disputou com o General Dutra
a Presidência da República. Pedro Velho teve duas
denominações: Cuitezeiros e Vila Nova. Pendências já
foi Independência e Raul Fernandes já se chamou Varzinha.
Rodolfo Fernandes já
foi São José dos Gatos. Santana do Matos já foi Santana do Pé da
Serra. São Rafael já foi chamado Caiçara. São Francisco do Oeste já
foi Salamandra. São José de Mipibu já foi São José do Rio Grande.
Umarizal teve duas denominações toponímicas:Gavião e Divinópolis,
enquanto São Miguel do Gostoso já foi São Miguel de Touros.
Santo Antônio já
foi Salto da Onça. Hoje é Santo Antônio do Salto da Onça. São Tomé já
foi chamada de Santa Teresa. São Gonçalo do Amarante já foi Felipe
Camarão. São José do Seridó já foi Povoação da Bonita. São Vicente já
foi Saco da Luzia. Severiano Melo se chamou Bom Lugar. Senador Eloy de
Sousa já foi Caiada de Baixo. Rafael Godeiro já foi Várzea da
Caatinga. Upanema teve dois topônimos: Curral da Várzea e Rua da
Palha.
Baraúna já teve a denominação
de Xavier Fernandes. Serra Caiada já se chamou Presidente Juscelino,
enquanto Santa Cruz do Inharé, localizada na zona do Trairi, já foi chamada
de Santa Rita da Cachoeira.
Manoel Tavares não citou que
a própria capital norte-riograndense, em um certo período, quando do domínio
holandês no Nordeste Brasileiro (1630 - 1654), teve a denominação de Nova
Amsterdã, em homenagem à capital batava. Esse topônimo também foi lembrado por
judeus de origem brasileira, quando da fixação na costa nordeste dos atuais
Estados Unidos, para a primitiva denominação da contemporânea cidade de Nova
York.
Também não há citações aos
primitivos topônimos de municípios potiguares como: Tenente Ananias
(Ipueira e Bom Jesus do Passo), Luiz Gomes (Serra do Senhor Bom
Jesus), Senador Georgino Avelino (Surubajá, ou lugar de muito peixe bagre, em
tupi-guarani) e São Fernando (Pascoal). Nos refrão final, o autor deixa
claro: Muitos foram os dias a pesquisar/ Trabalhando para fazer este
trabalho/ Observei mas não sei se ficou falho/ Levo agora pra você examinar/
Inclusive vocês vão me ajudar/ Verificar o que houve de errado/ Encontrando me
dê o resultado/ Indicando a falha que encontrou/ Registrando o ponto que
falhou/ Ajude-me que fico gratificado.
Importante trabalho inserido
no gênero literário cordel, de cunho histórico-geográfico, o legado cultural
adaptado ao livro de bolso do Nordestino, de autoria do saudoso Manoel Tavares,
destaca-se por subsidiar o conhecimento e o estudo de muitos dos antigos
topônimos de municípios pertencentes ao Estado do Rio Grande do Norte, sendo
plenamente aconselhável uso em sala de aula.
José Romero Araújo Cardoso:
Geógrafo (UFPB). Especialista
em Geografia e Gestão Territorial (UFPB-1996) e em Organização de Arquivos
(UFPB - 1997). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (2002). Atualmente é professor adjunto IV do
Departamento de Geografia/DGE da Faculdade de Filosofia e Ciências
Sociais/FAFIC da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN. Tem
experiência na área de Geografia Humana, com ênfase à Geografia Agrária,
atuando principalmente nos seguintes temas: ambientalismo, nordeste, temas regionais.
Espeleologia é tema presente em pesquisas. Escritor e articulista cultural.
Escreve para diversos jornais, sites e blogs. Sócio da Sociedade Brasileira de
Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).
Endereço residencial: Rua Raimundo Guilherme,
117 – Quadra 34 – Lote 32 – Conjunto Vingt Rosado – Mossoró – RN – CEP:
59.626-630 – Fones: (84) 9-8738-0646 – (84) 9-9702-3596 – E-mail:romero.cardoso@gmail.com
Postado por Mendes e Mendes
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