Sede do segundo distrito do município de Araquari
tem duas igrejas. Tinhas três. Uma seria suficiente. Duas igrejas- duas
comunidades. Não por tamanho, por população, mas por divisão ou diferenciação
de cor. Uma, a do Sagrado Coração de Jesus dos brancos, mais descuidada, embora
bonita por dentro, mas sem janela nenhuma. É de alvenaria, mas muito umedecida
e pouco freqüentada, porque é geograficamente deslocalizada e falta de
verdadeira fé.
Uma religião de herança... Um botequim
pequeníssimo e paupérrimo. Dinheiro não há. Terreno sem escritura. Objetos de
culto estaca-zero. Quando expus a
situação houve muita revolta porque diziam que o padre era só a favor dos
pretos que cuidam da igreja Nossa Senhora do Rosário, que está um pouco melhor. Mesmo assim unindo as duas
resultaria talvez uma igreja mais ou menos em ordem. Há mais freqüência na
igreja nossa senhora do Rosário, mas em ambas há divisão para cada cor.
Consegui perceber que boa parte do povo não se sente bem na igreja da outra
cor, sente-se em casa alheia, não há colaboração de uma para com a outra.
Ambas tratam bem o padre (para dar mostras de que
tudo está bem) Mas falta o amor cristão. Falta a caridade. Falta o Evangelho.
Eu sinceramente acredito nisto e isto atribuo a duplicidade de igrejas nas cem
família que por lá residem, a Igreja Nossa Senhora do Rosário possui dois
salões para dançar nos dias de festas. Um é reservado aos brancos, o outro aos
pretos e não pode haver mistura. Deixa-se o lugar bom dos dois salões com
cozinha, para preparar as festas em cozinha particular, onde boa parte da
comida se some e as festas não rendem o que devem render.
Eu sinceramente creio que se devam unificar as
duas igrejas. Enquanto perdurar a situação atual não acredito em melhora em
religião, em caridade, em Itapocu. Com poucas exceções há egoísmo e racismo.
Minha impressão é que nunca se deveria ter permitido oficialmente a divisão, o
que de fato o Exmo. Sr bispo condena totalmente. Para que a religião e a
história não nos condenem devemos mudar, o que não será fácil. Graças a Deus há
vozes que se levantam dando apoio a unificação. Parece ser necessária uma
terceira igreja neutra ou verdadeira, deixando as duas existentes jogadas as
ruínas. A causa é de Deus, por isso há de vingar.
Quando assumiu a igreja do “Bom Jesus” de Araquari
em 1961, o padre Aníbal Círico empreendeu uma viagem para conhecer de perto a
situação das capelas que faziam parte da respectiva paróquia. Além dos problemas
estruturais da igreja do “Sagrado Coração de Jesus”, dos brancos e da igreja de
“Nossa Senhora do Rosário”, dos negros, o padre percebeu a segregação racial
que imperava na comunidade do Itapocu. Aníbal Círico que se posicionava contra
o preconceito e o racismo sugere a unificação das irmandades, com a construção
de uma terceira igreja. O relatório sobre a situação das igrejas da paróquia do
Bom Jesus em 1961, esta registrado no livro do Tombo do município de Araquari.